Sem título ( ainda )

Duas vidas, uma pessoa.
A tua, a que queres e vives. A que deverias estar a viver ( ? ) .
Dois críticos interiores ao invés da unidade que geralmente corresponde a cada indivíduo.
Milhares de pensamentos que se atropelam uns aos outros sem nunca realmente permitirem a esta pessoa a proeza de por si só pensar.
Digamos que num minuto passam nesta mente distorcida um milhar de pensamentos.
Não poderão ser todos de sua autoria, de sua genuína preocupação ou feroz interesse. talvez meio milhar deles o possam efectivamente ser, os restantes, esses vêm da infeliz e insistente interferência " dos outros " na sua já confusa psyche, indicando a melhor solução, a coisa certa a fazer, a melhor forma de agir.
Sempre, mas sempre naquele tom conselheiro mas totalmente reprovador do inverso comportamento.
É o tipico " mas tu é que sabes ! "
Mas se eu é que sei e se até ( calhou ) nem perguntei nada para quê a grátis e repleta de uma consciência intelectual e inteligeência emocional, peça de informação ?
Que a utilizem para si .
Quem me dera ter toda essa capacidade para assim tão facilmente resolver as minhas confusões e compreender todas as instâncias do meu ego de forma tão linear, teórica, e ao mesmo tempo tão prática e acima de tudo do lado de lá das grades que me aprisionam dentro deste complexo orgânico, de estrutura rijida e de tão alta segurança que é a minha pessoa...


" Entretanto o tempo fez cinza da brasa
Outra maré cheia virá da maré vaza
Nasce um novo dia e no braço outra asa
Brinda - se aos amores com o vinho da casa
E vem - nos à memória uma frase batida
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida " Godinho, S.



L .

2793 Hora

Meio deitava, um quatro sentada e o resto desconfortável, já de madrugada oiço acordes tão estranhos como a organização da minha lista.
Penso a 2793 à hora.
Com um “ brilhozinho nos olhos “ vejo tons de branco, preto e azul; são agora o mundo á minha volta.
Continuo sempre à espera não sei bem de que.
Que decisões são estas que tomamos que nos fazem ficar acordados até altas horas a tentar inventar qualquer coisa para fazer ?
Será a desilusão de acordar e reconhecer um novo dia tão semelhante ao anterior ?

Pela calma aparência ninguém diria que, por dentro, ardo incessantemente.
Pensar tanto custa.
Às vezes chega a doer !
Arde.
Sem fumo nem fogo, queima um pedacinho de uma qualquer parte de mim a cada minuto.
“ Penso, logo existo “, não é ?
Diz que é sinal de existência. De vida. De qualquer coisa que diz que vale a pena celebrar.

As pessoas em geral, uma ou outra em particular invadem os meus pensamentos e vão – me consumindo sem sequer se darem conta.
Aquela situação no autocarro, o olhar meio desconfiado daquela tarde, a discussão de domingo passado, o que ficou por dizer, o que foi dito sem pensar, o que pensei que ia dizer…
Milhares de pessoas à minha volta.
Caras conhecidas, outras nem tanto.
Uns mexem – se, outros imóveis e sem expressão olham - me directamente na íris cada vez mais negra de confusão.
Pensamentos descoordenados, palavras sem sentido retidas na máquina que me faz quem sou.
Frases soltas que dizem tanto e tão pouco.

Há momentos, os menos dementes, em que a natureza dos meus pensamentos me envergonha.
Aquela sensação de “ mas qual é a parte ?! “ (que isso não vai acontecer; que não vais ter essa sorte; que tudo vai ficar na mesma; que a vida não é o que parece ser; que as pessoas só te contam metade daquilo que realmente pensam de ti; que a paz e amor só existem na banda desenhada da tua cabeça; que vamos todos zarpar um dia, que te sentes tão cansada que não consegues dormir … )

Se pensarmos de verdade, com vontade, tempo e verdadeira dedicação, acho que somos bem capazes de enlouquecer.
Ou talvez não.
“ Pensa menos e vive mais ! “ já dizia o outro.
“ Pensa bem na tua vida !“ o outro disse em tom filosófico.

Afinal ?
Pensar? Não pensar ?
Ah e tal nem uma coisa nem outra, as coisas têm de ser equilibradas !

O caralho! Quero uma resposta bem pensada ! ( faz favor … )



L .