quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Estado Civil

Efectivamente, se eu trabalhasse numa qualquer empresa, encontraria-me rodeada por pessoas da minha idade e mais velhas.
Por homens mais velhos.
Essas pessoas seriam os meus pares, essas pessoas seriam as com quem, tranquilamente, iria beber um copo no fim de mais uma sexta feira casual.
Limitando-me a conhecer pessoas, a conhecer homens, na noite lisboeta, é inevitável que estes tenham bem menos que os meus vinte e seis anos.
Será talvez e portanto por isso, que acabo quase sempre por me envolver com homens mais novos que eu.
Não terá que ver com o facto de não interessar a pessoas da minha idade, mas sim com a verdade de serem poucas as com quem me dou!
Ora durante a semana dou-me com mulheres em contexto laboral. Fora deste, dou-me com as minhas amigas, com quem vivo. Fora este dou-me com amigos e conhecidos (por quem não tenho interesse romântico). Fora desse dou-me com os miúdos da noite lisboeta.
Um emprego num escritório de "gente séria" será talvez a solução para a alteração do meu estado civil...

L .

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os furos que tenho no corpo

Alguém que saiba exactamente e de cor quantos furos tenho no corpo...
Quais considero piercing e quais considero furo para brincos.
Alguém que saiba se tenho, ou não, algum "furo falso".
Que sorria ao pensar em mim, lembrando-se exactamente e de cor dos contornos do meu rosto e da posição dos dois sinais minúsculos, mas tão negros, que lá tenho.
Que conheça o meu cheiro e seja capaz de centrifugá-lo!
Alguém que saiba que os meus olhos crescem, escurecem e brilham mais, de noite!
Que conheça as marcas que a vida gravou no meu corpo.
Alguém que desperte e fique por lá. Que fique a ver-me dormir memorizando os sinais, os cheiros, as marcas, as cores e os furos que tenho no corpo.

Que leia o que escrevo e publico, sem ser convidado.

Só alguém que saiba exactamente e de cor que tenho um "falso furo", dois piercings e quatro furos para brincos.


L .

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Quanto tempo dura uma hora?

Num sítio sem relógios.
Ela e Ele.
Ela: - Depois de passado todo este tempo aqui estamos. Aqui estás, como te esperei, para mim.
Ele: - Sempre estive contigo mas tu não estavas lá.
Ela: - Durou tempo o nosso encontro.
Ele: - Sim!
Ela: - Sim...
Os olhos fixaram-se. O tempo parou. Os corpos aproximaram-se. A boca parou. A respiração aumentou. Os lábios tocaram-se. As línguas envolveram-se. O tempo parou. O tempo começou.
Ele: - Amo-te como te amei naquele tempo em que te conheci. Volto já, demoro uma hora.
Onde o sol se punha e o vento da Primavera refrescavam o fim das suas costas nuas, Ela olhou o rio cinzento e o tempo parou. A alma gelou. E Ela em voz alta pensou:
- Quanto tempo dura uma hora?

L .

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

'Brava'

Nem sempre gosto dela e, às vezes, sei que ela nem sempre gosta de mim.
Não gosto quando me julga. Não gosto quando não me ouve. Não gosto quando me diz que não. Não gosto quando se esquece de coisas que lhe digo. Não gosto quando chega atrasada. Ai, odeio quando não me atende o telefone, quando lhe tento telefonar!
Contudo, gosto mesmo muito dela...
Gosto, por exemplo, da companhia do seu silêncio.
É a física que questiono quando penso no facto de sua imensidão caber dentro de tão pequeno corpo.
É grande! Generosa. Não com as coisas, mas com os sentimentos; com o que sabe e conhece, com o seu optimismo, com sua simpatia, e com a sua segurança.
Sabe, francamente, (com quem escolhe) partilhar!
Ensinou-me a aprender pelo menos metade das coisas que preciso saber para ser feliz.
Dá-me tudo isto, sem nada disto lhe ser pedido.
Dá-me tudo isto, sem nada me pedir.
Gosto das vezes que me abraça, quando não preciso.
Gosto das vezes que me deixa chorar sozinha.
O que mais gosto, sem muitas vezes saber gostar, é da forma como me respeita!
É dotada de uma intuição assustadora. Sensibilidade poderia ser o seu nome do meio.
É doce e alegre.
Há quem diga ter olhos tristes... Eu vejo neles a curiosidade, a força e a vontade!
A vontade de ser ainda maior! Através de pontes que cimenta todos os dias desde o abrir ao fechar de seus olhos grandes.
É tão distraída e destrambelhada que tangendo o meu enervar me faz alegremente sorrir.
Tenho sempre a necessidade de a partilhar por a saber única. Como se de uma obra prima de arte se tratasse!
Outro dia sonhei que vivia noutra cidade de outro continente e que conhecera uma pessoa tal e qual como ela e não fui capaz de conter o meu desejo de, imediatamente, as apresentar.
Hoje percebi que o mesmo poderá respeitar ao facto de a sua existência se ter tornado essencial à minha e da vontade que tenho em mostrar-lhe o reflexo deste espelho que sou eu.  

A noite passada perguntaste-me o que significas para mim.
É disto que se trata.


L .

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Bolinha

Não sei dizer que te amo.
Não sei dizer que és a pessoa mais importante da minha vida.
Não te sei dizer que parte de mim vai morrer quando desapareces.
Não sei mostrar-te que a tua existência foi elementar à minha.
Não sei ilustrar-te o que sinto.
Por palavras, por gestos, por atitudes...
Por atitudes, palavras e gestos, testo o teu amor por mim.
Testo-o por me parecer impossível gostares de mim como nunca ninguém poderá, de forma alguma, gostar.
Assusta-me não ser capaz de te mostrar que ninguém poderá gostar de ti como gosto eu.
É particular o meu amor por ti.
É único o teu amor por mim.
O que nos ligou fisicamente foi brutalmente cortado no segundo em que deixámos de ser Um!
Contudo,
o que nos liga emocionalmente é ilimitado...
E é a isso que, cobardemente, me agarro quando percebo que não sei dizer que te amo. quando sou incapaz de te mostrar que a minha existência sem ti era nula, quando não arranjo forma de te explicar a falta que um dia me farás...
Digo-to assim e agora, como sou capaz!
Amo-te como nunca vou amar ninguém e amar-te assim faz de mim tua procedente a quem sei que amas como a mais ninguém, mesmo que por vezes, não saibas como o mostrar ou dizer.
Piada tem este nosso silencioso amor...

L .